sábado, 3 de dezembro de 2016

MALÉ - A ESSÊNCIA DE UM POVO E A ALMA DE UM PAÍS

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Malé é confusão, é barulho é um caos organizado de motas, bicicletas e carros que circulam de um lado para o outro como se fossem formigas desorientadas. É o chamamento das mesquitas que lembra aos fieis que a hora da oração chegou, é os ferrys que chegam e partem a toda a hora sempre carregados de pessoas e mercadorias. Malé é calor, é o cheiro a peixe trazido pelos barcos de pesca. A capital das Maldivas é tudo isto e muito mais. É o verdadeiro reflexo de um país que vai muito para além das praias e dos resorts de luxo que poucos têm o privilégio de conhecer. 

De todas as pessoas com quem falei e perguntei se valia a pena visitar a cidade, obtive sempre a mesma resposta: "Não vale a pena, aquilo não tem nada para ver!" 
Nunca fiquei muito convencido com a opinião dos outros. Queria ter a certeza de que não valia mesmo a pena. Não fazia sentido terminar esta viagem sem guardar pelo menos um dia para conhecer aquela pequena ilha onde tudo acontece a um ritmo alucinante. Era acima de tudo uma teimosia pessoal...um capricho.


Amanhã despeço-me das Maldivas, mas hoje quero sentir a energia desta cidade, das pessoas que nos sorriem quando os nossos olhares se cruzam. Quero ver como vivem e como se comportam no seu dia a dia.
Por onde havemos de começar? 
O Mercado Local é uma ótima opção. Este é sem dúvida o melhor sítio para absorver toda a essência de um povo.


Lá dentro o ambiente é um pouco sombrio, somente as cores exóticas das frutas e legumes espalhados em cima das bancas de madeira, dão alguma cor ao local.
Caminhamos nas calmas e aqui e ali os olhares cruzam-se com compradores e vendedores que nos saúdam com um ligeiro abanar de cabeça. Não há pressões. Ninguém nos chateia para comprar nada.
Um homem de barba farta aproxima-se, dá-nos as boas vindas e a medo pergunta se precisamos de ajuda. Explicamos que estamos só de passagem.
De forma inesperada, aquele homem de expressão terna e postura paternal acompanha-nos pelos corredores do mercado e naturalmente vamos falando da sua vida, do passado e do país. O diálogo revela-se bastante agradável. Vê-se claramente que é uma pessoa culta e respeitada por todos.
Mais à frente paramos perto de uma banca, onde três homens conversam, ao mesmo tempo que devoram uma melancia de aspecto delicioso. É sem dúvida um postal engraçado e peço se posso fotografar.
"Claro que sim" - respondem com um sorriso dos lábios e até fazem uma pose para o retrato.
Agradecemos e quando já nos preparamos para virar costas damos conta que o nosso anfitrião troca meia dúzia de palavras com um deles, que se apressa a oferecer-nos umas generosas talhadas de melancia.
Aceitamos como é óbvio. Voltamos a agradecer e despedimo-nos daquele trio fantástico assim como do homem que nos acompanhou nos últimos minutos.
Um pouco mais à frente voltámos a parar, agora para comprar uma papaia que viria a ser o nosso almoço.


Na altura em que já nos estávamos a despedir deste local, ainda nos voltamos a cruzar com o nosso amigo de barbas que tranquilamente preparava  uma dose de betel junto a uma banca já à saída do mercado.
Trocámos mais umas palavras de circunstância e só nesta altura fiquei a saber que se chamava Hassan.
Ofereceu-me o seu betel, mas recusei. Voltou a insistir e tive de explicar que como ia fazer uma longa viagem tinha medo de que o meu estômago não aguentasse.
O homem aceita a minha desculpa e lança-me um sorriso de gozo, como se quisesse dizer:
"És mesmo fraquinho!"


Seguimos para o Mercado do Peixe que fica logo ali do outro lado da estrada.
À entrada um homem sentado faz contas ás vendas do dia. Muito provavelmente este é o seu único ganha pão. Á sua frente estão expostos uma, talvez duas dezenas de pequenos peixes que possivelmente pescou durante a noite.
O ambiente aqui é mais agitado. É como se a energia que se vive nas ruas da capital tivesse invadido este pequeno edifício. 
Um constante corrupio de personagens que entram e saem, compram e vendem e negoceiam os seus produtos. Connosco cruzam-se caixotes carregados de peixes que chegam e partem a toda a hora. Esforçamo-nos para passar despercebidos e não incomodar quem trabalha.
À nossa direita um homem desmancha com perícia uma enorme peça, vê-se que tem experiência naquilo que faz.
Ficamos ali parados a observá-lo e ele nem dà pela nossa presença.




No centro está exposto o que certamente será o resultado da faina da noite anterior. Peixes de diversos tamanhos e feitios encontram-se espalhados à espera que alguém os leve para casa. Atum, muitas peças de atum, algumas delas de tamanho xl que me recordam a minha passagem pelo mercado de peixe em Tóquio.
Questiono aquele que me parece ser o responsável por aquela banca, se posso fotografar. A autorização é-me dada com um simples abanar de cabeça.
O homem tenta meter conversa com a pergunta típica:
"Where are you from?"
"Portugal" - respondemos
Sem que nada o fizesse esperar, somos surpreendidos com um "bem vindos!" num português quase perfeito.
Ao ver o nosso espanto, aquele sujeito de sorriso fácil, que se passeia com um molho de notas na mão, apressa-se a explicar que trabalha há muitos anos com companhias Brasileiras e Argentinas.
"Enviamos para lá muito atum" - complementa. 
Depois de dois dedos de conversa, despedimos-nos e cada um segue o seu caminho.



Voltámos à rua onde centenas de motas, carros e pessoas convivem de forma harmoniosa. Caminhamos meia dúzia de minutos junto ao mar e pouco depois fazemos uma curta pausa na Praça da República, o principal ponto de encontro da cidade.
O calor já aperta. Procuramos uma sombra que nos proteja e sentamo-nos num dos bancos existentes neste enorme espaço onde uma igualmente grande bandeira dança ao sabor da leve brisa que se faz sentir. À nossa volta vemos homens a conversar, mulheres que alimentam os pombos ao mesmo tempo que vigiam as suas crianças que brincam e jogam à bola...um dia normal para os habitantes de Malé.


Os nossos passos levam-nos agora por zonas mais interiores, onde as ruas são mais estreitas e o movimento menos intenso. A maior parte dos prédios são velhos e os que não o são parecem-no ser devido à falta de manutenção. Só mesmo as cores vivas que cobrem algumas das fachadas dão alguma vida àquela selva de betão que já não tem mais para onde crescer.
Quase sem darmos por isso estamos de novo perto do mar, e uma Praia Artificial de aspecto apetecível surge diante nós. Por muito que o calor que se faz sentir convidasse a um mergulho, isso não vai acontecer, a não ser que o façamos vestidos. O espaço é reservado aos habitantes locais e é dessa forma que se refrescam. Os turistas por aqui são uma carta fora do baralho, não têm regalias. Esta terra ainda é do povo...mas até quando?




Sem pressa e porque o calor não convida a grandes correrias, ficamos ali sentados a observar aquela tela pintada de tons azul. Na ilha à nossa frente, não muito longe, conseguimos ver claramente a pista do aeroporto onde um avião aterra. É multidão que chegam em busca do paraíso.
Sabe-nos bem aquele ventinho que vem do oceano e resolvemos que o almoço vai ser comido ali naquele banco com vista para o mar. Entretanto o silêncio e a calma são quebrados pelo som do chamamento das mesquitas para mais uma oração. A visita que tínhamos planeado a estes locais de culto vai ter de ficar para mais tarde, talvez lá mais para o final do dia. Vamos até ao hotel descansar umas horinhas, porque como já referi...não temos pressa!

Já com uma temperatura mais amena e depois de um par de horas a recarregar baterias, voltamos à rua para a derradeira etapa da nossa visita, que nos levará a conhecer as duas mais relevantes mesquitas da capital.
A curiosidade de conhecer um dos mais antigos templos islâmicos do país, faz com que demos prioridade à Hukuru Miskiy.
Logo à entrada somos literalmente barrados por uma placa que avisa que o acesso a não muçulmanos é somente permitido após a obtenção de uma autorização oficial. 
"Mas onde raio vamos arranjar tal autorização?" - Temos de pensar numa maneira de conseguir entrar.
Do outro lado do muro, reparamos num homem vestido de verde que aparenta trabalhar na manutenção do jardim que rodeia o local.-"Vamos falar com ele,talvez nos possa ajudar!"
"Boa tarde, gostávamos de aceder ao espaço acha que é possiv......."
O homem nem nos deixa terminar a pergunta -"Sim, claro que sim, mas a senhora vai ter de ficar pelo jardim. Só os homens é que podem entrar na mesquita."
Ao ver a minha máquina fotográfica,ainda volta a soltar mais umas palavras,agora em tom de aviso - "Cá fora pode fotografar à vontade. Lá dentro também pode fazê-lo, mas de forma discreta."
Agradecemos e lançamo-nos à descoberta daquele local que se assemelha a um oásis situado bem no meio de uma cidade barulhenta. Começamos a "visita" pela área exterior onde além do bem tratado jardim, existem também diversos túmulos e sepulturas que talvez sejam de personalidades importantes.




É nesta altura que nos separamos. Descalço-me e subo os degraus que me conduzem ao interior daquele templo sagrado que mais parece uma estufa. Em poucos minutos já sinto o suor escorrer pelas costas.
Toda a estrutura é feita de madeira, com alguns apontamentos de pedra de coral e o chão é coberto por um tapete, sobre o qual dois homens realizam as suas orações. Tento não incomodar e mantenho-me a um canto de onde faço meia dúzia de fotografias que devido à pouca luz, não me parece que fiquem grande coisa. Pelo menos fica o registo.
Quando me preparo para abandonar o espaço por uma porta lateral, cruzo-me com dois homens que me cumprimentam na língua local.
Volto a juntar-me à Paula que entretanto foi dar uma vista de olhos à Residência Oficial do Presidente da República, que fica do outro lado da estrada. Parece uma casa de bonecas.



A outra mesquita que queremos visitar não fica longe. Cinco minutos, nem tanto e chegamos ao principal local de culto da capital, situado nas imediações da Praça da República.
O edifício moderno de onde sobressai o minarete de três andares e a cúpula dourada, alberga o centro islâmico de Malé, e é onde estão instalados um centro de conferências,uma biblioteca e a Mesquita Masjidh Al Sultana Muhammad Thakurufaanu al Auzam que tencionamos conhecer.
Á porta passamos por um guarda que supostamente controla o acesso ao espaço. O sujeito barrigudo e de bigode farfalhudo, sem olhar para nós faz-nos sinal para avançar. Está mais entretido com o que se passa no telemóvel.
Deixamos os chinelos ali a um canto e subimos a escadaria que nos leva ao piso superior onde supostamente fica situada a entrada da mesquita que facilmente encontramos.
Desilusão total! O que vemos não nos impressionada. Estávamos à espera de algo mais imponente, que se assemelhasse ás mesquitas que visitámos no Irão, em Istambul ou em Abu Dhabi. Mas é só mais uma mesquita.




Esta não foi a despedida que imaginámos,mas esta viagem acabou por ser muito maior que as expectativas que trazíamos na mochila. Fui a simpatia das pessoas que se cruzaram connosco, fui o cheiro a caril que saía dos restaurantes e o azul do mar que nos fez sonhar com um paraíso que talvez nunca vamos encontrar. A capital da Maldivas é a essência de um povo e o reflexo de um país que vale a pena descobrir.


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