domingo, 24 de abril de 2016

IRÃO - AS PRIMEIRAS HORAS DE UMA VIAGEM MEMORÁVEL PELA PÉRSIA


Passavam poucos minutos das três da manhã quando aterrei no aeroporto internacional Imam Khomeini em Teerão.
Apesar de ter dormido um bom par de horas durante o voo, sinto-me cansado e com os olhos a exigirem mais umas horas de sono. Estou feliz mas o corpo teima em não me deixar desfrutar do momento.
O desembarque foi rápido e como viajo sem bagagem de porão (somente com a minha mochila) em menos de dez minutos já me encontro na fila de controle de passaportes.
Não vou negar que estou um pouco apreensivo.
Hoje, tal como nos dias que antecederam esta viagem, na minha cabeça as dúvidas são muitas. Provavelmente vão-me fazer mil e uma perguntas.
-"O que vem aqui fazer?"
-"Porquê que veio visitar o Irão?"
-"Quantos dias vai ficar?"
Será que apesar de ter o visto colado no passaporte me poderão dificultar a entrada por não trazer nenhum hotel reservado?
Tantas perguntas e as respostas estão já ali a uns cinco metros de distância. 
Quando chega a minha vez, dirigo-me ao guichet, cumprimento com um "salam" o homem que se encontra no interior e entrego o passaporte.
Um minuto, talvez nem tanto e recebo o passaporte de volta já com o carimbo de entrada estampado numa das páginas.
-É só isto? Sem perguntas?
Fácil, tão fácil.
Agora sim, estou oficialmente no Irão. A aventura vai começar!

O aeroporto está praticamente deserto. Provavelmente só o meu voo é que chegou aquela hora.
A prioridade agora é trocar algum dinheiro. Não muito, pois como é sabido, as taxas nos aeroportos não são nada favoráveis.
Depois de alguns cálculos, decido que nesta primeira fase vou só trocar cinquenta euros. O homem de sorriso fácil que se encontra por detrás do vidro diz-me que tenho a receber 1.600.000 IR. Verifico o câmbio na aplicação do smartphone e aparentemente deveria receber mais 100.000 IR (cerca de 3 euros). Como não tenho alternativa... como e calo.

Coloco o dinheiro no bolso, saio para o exterior do terminal e respiro pela primeira vez o ar poluído desta grande metrópole. 
Está decidido. Não quero ficar em Teerão (haverei de cá voltar no final da viagem). Para já, o meu plano é rumar a sul e tentar chegar o mais rápido possível a Esfahan.
Sei que vou ter de apanhar um táxi para o terminal rodoviário E-Jonoob e não me apetecia muito regatear o preço com os taxistas, mas será certamente algo inevitável.
Num piscar de olhos encontro-me rodeado por uns quantos, que sem grandes rodeios pedem 750.000 IR para me levar onde quero. Sei que o preço habitual é 600.000 IR por isso regateio por baixo.
500.000 IR é o que pago! Depois de alguma argumentação consigo por 550.000 IR num táxi não oficial.

O taxista até é um tipo simpático mas não fala inglês. Lá nos vamos entendendo e quando digo que sou português faz uma grande festa e com um sorriso de orelha a orelha lança algo inesperado: "Queiroz, GOOD!". Percebo claramente que se refere ao Carlos Queiroz, o português que por estas bandas é o rei do futebol iraniano. O selecionador da equipa nacional.
O Peugeot 405 onde sigo deve estar quitado. A estrada é boa mas a verdade é que não me sinto muito à vontade com a velocidade a que avançamos.
Durante a minha estadia no país haveria de perceber que as regras de trânsito pouco ou nada são respeitadas e as passadeiras para peões não passam de meros traços nas estradas.
Chego ao meu destino, pago ao tipo (que fiquei a saber que se chamava Ali) e despeço-me.
Quando já me afastava oiço algo do género: "portugueeesee, portugueeesee!"- Viro-me e vejo o Ali com um saco de pevides na mão.
-"For me?"
-"Yes, Queiroz Good!"
Ora aqui está a tão falada hospitalidade iraniana.

Ao contrário do aeroporto, o terminal rodoviário parece um formigueiro.
Nesta altura são cinco da manhã e o tempo está agora mais abafado. Sinto o suor a escorrer pelas costas abaixo.
Ao fim de várias tentativas lá consigo comprar o bilhete.
Pago 170.000 IR e arranco já daqui a uma hora. Porreiro, estou com sorte! Escolho o bus normal, pois o V.I.P. só partia por volta das nove e custava quase o dobro.
Enquanto espero compro uma garrafa de água, sento-me num banco no exterior do terminal e aproveito para comer uma sandwich que trazia na mochila.

Pouco depois da hora marcada seguimos viagem. O bus vai quase vazio e tenho dois bancos só para mim. Vou finalmente poder dormir. Daqui a seis horas estarei em Esfahan.
Sinto-me exausto mas feliz!

Adormeci quase de imediato e só acordei com o sol a bater-me no rosto. Olho para o relógio. Tinham passado quatro horas.
Reparo que nesta altura o autocarro já transporta mais pessoas do que aquelas com que havia iniciado a viagem. Provavelmente devemos ter feito uma pausa para recolher passageiros e eu não tinha dado por nada.
A estrada é boa e a paisagem que nos rodeia é praticamente desértica. De longe a longe lá atravessamos uma pequena aldeia.
Apercebo-me que alguém tinha colocado umas bolachas e um sumo no banco ao lado do meu. Olhei ao redor para tentar perceber a quem pertenciam e vejo que alguns dos outros passageiros aconchegam o estômago com um snack idêntico que rapidamente constatei ser oferta da companhia de bus.
Comi as bolachas e guardei o sumo para mais tarde.



Devia ser meio dia quando chegámos ao terminal rodoviário de Esfahan. Pego na mochila, consulto a aplicação google maps offline (que muito útil se revelou durante esta viagem) e vejo que estou a pouco mais de quatro quilómetros do centro da cidade.
Tenho de apanhar um táxi...outra vez!
Deixo o terminal a pé e quase de imediato sou abordado por um puto que mais parecia um gravador.
-"táxi, táxi, táxi..."
Sem mostrar grande interesse pergunto quanto quer para me levar ao centro e a resposta saiu quase de forma automática.
"-100.000 IR"
Três euros até me pareceu um preço bastante justo para o trajeto. De qualquer forma resolvi arriscar e atirei com 70.000 IR.
-"Ok, ok"- respondeu ele sem perder tempo.
Bem... se três euros já era bom, dois é ainda melhor!
O rapaz pega na minha mochila e leva-me até um velhote que fumava o seu cigarro na maior das calmas. Ao que parece é ele que me levará ao destino.
Aponto no mapa do guia Lonely Planet o nome do hotel para onde quero ir. 
O velho termina o cigarro, seguimos e sem demoras apercebo-me que não está muito seguro do caminho a seguir, parando o carro em menos de dois minutos.
O homem pede-me o livro e sai em direção a uma pequena loja.
Não tenho dúvidas que foi tentar saber onde raio ficava aquele hotel.
Devidamente elucidado regressa e continuámos pelo meio do trânsito caótico, num pára arranca constante. Como não tenho pressa não me importo muito.
Vou constantemente consultando o gps e a certa altura quando me apercebo que estamos na rua principal peço para sair. Hotéis é coisa que não falta ali e quem sabe, com um pouco de sorte até encontrarei algo mais em conta.
A verdade é que acabo por ficar logo no primeiro onde entrei. Simples mas correto. Paguei 700.000 IR por um quarto com duas camas, w.c. privativo e wi-fi.
Problema resolvido.
Visto uma t-shirt lavada, pego na máquina fotográfica e saio de imediato cheio de vontade de começar a explorar aquela que para muitos é a cidade mais bonita do Irão.

O que eu quero mesmo é ver a famosa praça principal, onde se encontram algumas das grandes atrações e que é considerada a segunda maior do mundo.
Pelo caminho compro um pão típico que viria a ser o meu almoço. 
A praça estava ali a dois passos e por mais expectativas que tivesse nunca imaginei que fosse assim tão grande. 
Acho que foi neste momento que tive realmente consciência de que estava no Irão. Sentei-me num dos muitos bancos existentes e ali fiquei em silêncio a absorver tudo o que tinha ao meu redor.

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Depois de ter comido quase metade de pão que tinha comprado e bebido o sumo que trouxera do autocarro senti-me pronto para a ação.
Hoje não tinha previsto visitar nenhum local em particular. Queria somente andar por ali e desfrutar.
Depois de voltas e mais voltas acabei por ir dar a um dos bazares ali existentes que percorri um pouco ao acaso, perdendo-me por diversas vezes.
Estava a gostar do que estava a viver e para mim isso é o mais importante.

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No final do dia fiz questão de descer até á zona ribeirinha, famosa pelas várias pontes e por ser um dos principais pontos de encontro dos habitantes da cidade.
O tempo estava ótimo, andei talvez um par de quilómetros ao longo do rio e misturei-me com a multidão. À medida que caminhava ia-me cruzando com pessoas alegres que riam, falavam, petiscavam e ouviam música. 



Esta foi a melhor maneira de terminar o dia. O meu primeiro dia no Irão.
Amanhã mantenho-me por Esfahan.




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